Letras miúdas: campanha do Idec ensina a identificar produtos ultraprocessados

Uma nova campanha lançada nesta terça (4) pelo Idec (Instituto de Defesa de Consumidores) quer ajudar as pessoas consumidoras a identificarem quais são os produtos alimentícios classificados como ultraprocessados. Para isso, a campanha incentiva as pessoas a olharem além da lupa de aviso, que está presente na parte da frente das embalagens e de alimentos e bebidas embalados, e traz atenção também para a lista de ingredientes.

É nas letras miúdas, segundo o Instituto, que encontramos os aditivos alimentares que maquiam o produto, ou seja, adicionam a ele características sensoriais mais atrativas. Os corantes, os aromatizantes e os edulcorantes (popularmente conhecidos como adoçantes), são exemplos desses aditivos alimentares e indicam que aquele produto é um ultraprocessado e, portanto, o seu consumo pode fazer mal à saúde.

As peças e filmes da campanha “Se ligue nas letras miúdas” chegam ao público logo depois do fim do prazo de adequação da maioria dos produtos alimentícios às novas regras de rotulagem nutricional da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ainda que a implementação do selo “Alto em” venha sendo realizada de forma vagarosa pela indústria, o Idec reconhece a importância das mudanças que contribuem para que sejam realizadas escolhas alimentares com acesso a mais informação.

Além das peças e filmes, o público pode saber mais sobre o tema no site deolhonosrotulos.org.br, que também inclui o “raio-x dos rótulos”, com análises das embalagens em 24 categorias de produtos ultraprocessados.

Para a nutricionista e analista de pesquisa do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec, Mariana Ribeiro, a lupa com o aviso “Alto em”, estimula as pessoas consumidoras a repensarem a compra de certos produtos.

“A lupa é um aviso importante, mas sua ausência não garante que um produto seja saudável. Por isso é tão importante ler a lista de ingredientes. Ela complementa a informação do selo “Alto em”, ao revelar o que de fato compõe aquele produto, incluindo a presença de aditivos alimentares que são usados pela indústria de ultraprocessados para tornar seus produtos mais atrativos. Encontrar os termos “corante”, “aromatizante” e/ou “edulcorante” na lista deve servir de alerta para que as pessoas consigam identificar de maneira rápida que aquele produto é um ultraprocessado “, afirma.


Impactos para saúde

De acordo com levantamento feito pelo Instituto Desiderata, pelo Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP) e pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), os os custos de internação de crianças e adolescentes com obesidade no SUS aumentaram 20% em uma década, passando de R$ 145 milhões, em 2013, para R$ 174 milhões, em 2022. O consumo de produtos ultraprocessados é apontado como uma das razões desse aumento. Segundo dados do Enani (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil) de 2019, 80% das crianças menores de dois anos já tinham consumido esses produtos.

Impacto similar já foi identificado entre adultos: ​​de acordo com o Observatório da Atenção Primária à Saúde, da associação Umane, as mortes associadas à hipertensão arterial aumentaram 47,67% entre 2019 e 2022. Outro estudo de 2022 da USP calcula que 10% dos óbitos prematuros de adultos entre 30 e 69 anos podem ser atribuídos ao consumo de ultraprocessados.

Em relação aos aditivos alimentares que são considerados marcadores de ultraprocessados, no ano passado a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que os edulcorantes não fossem utilizados como estratégia para controle do peso corporal e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis.

Na semana passada, em complemento a uma carta enviada para a Anvisa em março de 2023, o Idec mandou uma nova correspondência cobrando a Agência pela abertura do debate (diálogo setorial) sobre os edulcorantes. O objetivo do Instituto é que nesse processo também seja debatida a necessidade de aprimoramento da informação sobre a presença de edulcorantes nos rótulos de produtos embalados. Há mais de um ano, a Anvisa sinalizou que iniciaria o processo, mas nada público foi iniciado até o momento.