Cartórios apontam que Goiás tem média de 1,6 mil órfãos por ano desde 2021

Em 2021, pandemia da COVID-19 foi responsável por ao menos 1/3 da orfandade em território goiano e, até este ano, pode ter deixado até 1.243 crianças e adolescentes sem um dos pais

Levantamento inédito realizado pelos Cartórios de Registro Civil do país aponta que mais de 1,6 mil crianças e adolescentes de até 17 anos ficam órfãos de pelo menos um de seus pais por ano em Goiás. Os dados, pela primeira vez consolidados a nível estadual, mostram ainda que, em 2021, a Covid-19 foi responsável por ao menos um terço da orfandade no estado, correspondendo a 654 crianças que perderam seus pais por conta da doença em um total de 1.827 órfãos.

O levantamento abrange o período de 2021 a 2024, quando foi possível realizar o cruzamento dos dados dos CPFs dos pais existentes nos registros de óbitos com o registro de nascimento de seus filhos, possibilitando averiguar com exatidão o número de órfãos no país ano a ano. Até a metade de 2019 não havia a obrigatoriedade de inclusão do CPF dos pais no registro de nascimento, inviabilizando uma correlação exata entre ambos os registros, número que ficou consolidado a partir de 2021.

“A divulgação desses dados pelo registro civil é um marco essencial para dar visibilidade à realidade de milhares de crianças e adolescentes órfãos em Goiás, cujos desafios vão muito além da perda familiar. O registro civil não apenas documenta essas histórias, mas oferece uma base sólida para a formulação de políticas públicas que garantam o direito à proteção, à educação e a um futuro digno para essas crianças. É através dessa estrutura que podemos mobilizar a sociedade goiana para construir uma rede de apoio efetiva e transformadora, assegurando que nenhum desses jovens seja invisível aos olhos do poder público e da comunidade”, enfatiza Dra. Evelyn Valente, presidente da Arpen/GO”, declara Evelyn Valente, presidente da ARPEN/GO.

Segundo os dados consolidados pela Arpen-GO via ON-RCPN, além dos 1.827 órfãos contabilizados em 2021, o ano seguinte registrou 1.480 crianças que perderam ao menos um dos pais, enquanto 2023 registrou um aumento para 1.621 órfãos e, até outubro de 2024, o número já totaliza 1.625, o que supera o recorde do ano passado neste período.

Quando consideradas apenas crianças e adolescentes que ficaram órfãos dos dois pais, os números variam. Em 2021 foram 41, em 2022, 38, em 2023, 32 e, em até outubro de 2024, 45 órfãos. Em razão de seu contingente populacional, São Paulo é o estado que mais registra órfãos no Brasil, seguido pela Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Fenômeno da Covid-19

Os dados consolidados do levantamento dos Cartórios de Registro Civil apontam que a Covid-19 deixou, desde 2019, 837 crianças órfãos de pelo menos um de seus pais em Goiás. Se forem consideradas doenças correlacionadas ao coronavírus no período, como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – 28; Insuficiência Respiratória – 348; e Causas Indeterminadas – 30, o número pode chegar a ao menos 1.243 crianças órfãos no Brasil por causa de doenças relacionadas à Covid desde 2019.

Ainda segundo o estudo, ao menos 13 crianças perderam os dois pais em razão da doença causada pelo novo coronavírus, número que pode ser ampliado a 18, se forem considerados óbitos de doenças à época relacionadas com a Covid-19, como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – 0; Insuficiência Respiratória – 5; e Causas Indeterminadas – 0. O levantamento ainda aponta reflexo no aumento do número de órfãos em razão do falecimento de seus pais em doenças como Infarto, AVC, Sepse e Pneumonia, que estiveram relacionadas com a pandemia nos últimos anos.