Vírus semelhante ao do sarampo é isolado pela primeira vez em morcegos da América Latina
Descoberta inédita feita por cientistas do Brasil e da Europa revela nova linhagem de Morbillivirus e reforça papel dos morcegos como reservatórios naturais de vírus com potencial pandêmico.
Pesquisadores do Brasil, da Costa Rica e da Europa isolaram e cultivaram pela primeira vez em laboratório um vírus do gênero Morbillivirus a partir de morcegos hematófagos da América Latina — grupo viral que inclui os causadores do sarampo humano e da cinomose canina. A descoberta, publicada na Nature Microbiology, é resultado de 14 anos de estudos com mais de 1.600 morcegos e representa um avanço na vigilância de patógenos com potencial impacto à saúde pública.
O vírus foi encontrado em altas concentrações nos órgãos dos morcegos, sem causar sintomas graves nos animais. Apesar de não usar os mesmos receptores celulares que o sarampo humano, o vírus pode evoluir e adaptar-se, alertam os cientistas. Testes mostraram que anticorpos contra sarampo e cinomose têm efeito neutralizante sobre os novos vírus, sugerindo possível imunidade cruzada.
A equipe também detectou sinais do Morbillivirus em macacos silvestres no Brasil, reforçando a hipótese de transmissão entre espécies. A pesquisa foi coordenada por instituições como o Institut Pasteur de São Paulo, a USP, a UFBA e a Charité de Berlim, com apoio da FAPESP.
Segundo os autores, o estudo amplia a compreensão sobre a evolução dos Morbillivirus e destaca a importância da vigilância contínua em regiões de alta biodiversidade, como a Mata Atlântica.