Crise no bolsonarismo: candidatura de Carlos Bolsonaro ao Senado divide o PL em Santa Catarina
A decisão de lançar Carlos Bolsonaro (PL-RJ) ao Senado por Santa Catarina desencadeou uma crise dentro do Partido Liberal (PL) e expôs fissuras no grupo político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O estado, que foi o terceiro maior colégio eleitoral bolsonarista em 2022, tornou-se palco de uma disputa acirrada entre lideranças locais e nacionais, marcada por acusações de traição e infidelidade partidária.
O impasse envolve nomes de peso do bolsonarismo, como as deputadas Ana Campagnolo (PL) e Caroline de Toni (PL-SC), o governador Jorginho Mello (PL), o senador Espiridião Amin (PP-SC) e o próprio Carlos Bolsonaro. O conflito teve início em junho, após o anúncio de que o vereador carioca seria o candidato da família Bolsonaro ao Senado por Santa Catarina — decisão vista como imposição “de cima para baixo” e tentativa de blindagem política diante das investigações que cercam o clã.
Reação em cadeia
A movimentação frustrou lideranças locais, que já articulavam as candidaturas de Caroline de Toni e Espiridião Amin. Com o apoio de Jair Bolsonaro ao filho, Caroline foi pressionada pelo governador Jorginho Mello a deixar o PL caso mantivesse a pré-candidatura, o que a retirou da disputa. A decisão provocou reação da deputada Ana Campagnolo, que denunciou a manobra nas redes sociais e afirmou que a colega havia sido “rifada” do partido.
A crítica de Campagnolo irritou os filhos de Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) reagiu acusando-a de infidelidade e falta de “subordinação à liderança”. Em resposta, Campagnolo ironizou, lembrando que o próprio Eduardo já discordou do pai em decisões estratégicas. O vereador Carlos Bolsonaro também se manifestou, alegando ter renunciado a uma vida estável em nome da lealdade ao movimento bolsonarista e lamentando a postura de antigos aliados.
Divisões e tentativas de apaziguamento
A crise se agravou quando Michelle Bolsonaro declarou apoio público a Caroline de Toni, aprofundando a divisão entre as alas do PL. Apesar das divergências, líderes da legenda tentam conter os danos. Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) minimizou a tensão, classificando o episódio como “disputa por espaço e convicções”.
Enquanto isso, o senador Espiridião Amin (PP-SC) evitou entrar no conflito e manteve sua pré-candidatura: “Não tem polêmica. Isso será discutido no momento certo”, afirmou.
Estratégia e riscos
Com Jair Bolsonaro em prisão domiciliar, a candidatura de Carlos é vista como parte de uma estratégia para preservar o capital político da família e garantir representação no Congresso. No entanto, a iniciativa gerou divisões profundas e colocou à prova a capacidade do bolsonarismo de manter coesão interna em um dos estados mais leais ao ex-presidente.
A disputa por Santa Catarina, que poderia fortalecer o grupo, hoje simboliza o maior desafio do movimento: equilibrar interesses familiares e projetos políticos sem fragmentar a base que sustenta o bolsonarismo desde 2018.