Nos bastidores do governo, cresce a avaliação de que a relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), atravessa um momento de tensão. Segundo relatos de auxiliares próximos ao Planalto — divulgados inicialmente pela CNN Brasil — Lula tem demonstrado insatisfação com a postura de Motta, especialmente em episódios recentes que sugerem falta de coordenação e transparência.

O estopim para o mal-estar teria sido a ausência de Hugo Motta na cerimônia de sanção da reforma do Imposto de Renda. O desconforto aumentou ainda mais quando o presidente da Câmara decidiu, de última hora, colocar em votação o projeto de lei da dosimetria, aprovado na noite de terça-feira (9). A movimentação pegou o governo de surpresa, já que o Planalto havia sinalizado contrariedade ao texto.

Interlocutores do Executivo afirmam que a maior queixa gira em torno da imprevisibilidade. Na véspera da votação, Motta participou de uma reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, para discutir a pauta do Congresso. O presidente da Câmara, no entanto, não mencionou que o projeto seria levado ao plenário no dia seguinte, o que aumentou o sentimento de ruptura.

Outro episódio que ampliou o distanciamento foi a expulsão do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) do plenário, ação que terminou com agressões a jornalistas. A forma como a situação foi conduzida foi mal recebida no Planalto, que enxergou um alinhamento de Motta com a estratégia da oposição.

Com o ambiente cada vez mais desgastado, assessores políticos avaliam que a esquerda não deve apoiar uma eventual tentativa de Hugo Motta de se reeleger à presidência da Câmara. Já no campo da direita, mesmo com movimentos recentes de aproximação, a resistência permanece entre aliados do bolsonarismo, o que indica um cenário de isolamento político para o atual comandante da Casa.