Análise do agronegócio de grãos: Brasil e Estados Unidos em perspectiva
O panorama atual do agronegócio de grãos no Brasil e nos Estados Unidos é de significativa importância econômica e política, com implicações globais que merecem uma análise detalhada.
Na safra 2022/23, o Brasil conquistou um feito notável ao atingir um recorde de produção de soja, registrando um pouco mais de 154 milhões de toneladas e solidificando sua posição como líder mundial neste mercado. Produtores de Mato Grosso, Paraná e Goiás foram cruciais para esse sucesso. Enquanto isso, os EUA enfrentaram desafios climáticos, resultando em uma produção de soja (116,377 milhões de toneladas) inferior à do Brasil. Essa situação ofereceu ao agronegócio brasileiro uma oportunidade única para fortalecer sua posição no cenário internacional.
O milho também tem papel fundamental nas economias de ambos os países. O Brasil projeta uma produção de 50,14 milhões de toneladas na segunda safra de 2022/23, tornando-se o maior exportador global devido a uma safra robusta, diversificação de fornecedores, como a China, e condições desfavoráveis nos EUA. Embora os países americanos mantenham uma produção sólida de milho, preocupações relacionadas ao clima e incertezas na colheita podem afetar os preços e a oferta.
Além disso, o Brasil lidera as exportações de farelo de soja, superando a Argentina em razão das condições climáticas adversas. Quanto ao trigo, a produção brasileira apresenta queda de 7,4%, os argentinos enfrentam desafios produtivos e os EUA permanecem como principais exportadores globais do grão, mas as mudanças climáticas e acordos comerciais podem trazer contratempos adicionais.
Os grãos são ainda componentes estratégicos em cadeias produtivas, por exemplo a da carne, contribuem para a geração de divisas no comércio exterior, o desenvolvimento econômico e social e, para surpresa de muitos, na preservação ambiental em várias regiões brasileiras. A agricultura 4.0 e o desenvolvimento de variedades de plantas adaptadas às condições locais vêm desempenhando um papel fundamental na sustentabilidade desses sistemas de produção.
Até 2050, há previsão de aumento em 70% na demanda mundial por alimentos e duplicação na demanda por energia e todo esse crescimento virá da produção de grãos em terras agrícolas que, por isso, deve ser intensificada.
Diante desses dados, pode-se verificar que tanto o Brasil quanto os EUA possuem oportunidades e desafios únicos no agronegócio de grãos, especialmente em soja e milho. Essas avaliações ocorrem em um contexto global de incertezas no mercado de trigo e farelo de soja. Como especialistas no setor, faz parte de nossa missão continuar monitorando e discutindo esses desenvolvimentos de forma objetiva e estratégica para o benefício de nossas economias e do mundo como um todo.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em 10 anos, ou seja, na safra 2032/33, a área de soja será 27% maior do que é hoje, atingindo 55,9 milhões de hectares, um aumento absoluto de 11,8 milhões de hectares, sendo a lavoura que mais deve expandir área nesse período.
Com relação à produção, estima-se um aumento de 32,1 milhões de toneladas (+21%), alcançando o patamar de 186,7 milhões de toneladas na safra 2032/33. Nos últimos 10 anos, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área de soja cresceu 40%, enquanto a produção teve um crescimento de 81% e a produtividade 24%. Sendo assim, ocorreu um crescimento baseado em expansão de área.
Da mesma maneira, considerando as análises realizadas pelo Mapa, estima-se que o milho tenha um crescimento de 15% em sua área entre 2022/23 e 2032/33, atingindo 25,7 milhões de hectares. A produção terá um crescimento superior, de 21%, atingindo 159,8 milhões de toneladas em 10 anos.
O Brasil tem total potencial de sustentar a liderança na produção destes importantes grãos. Isso levando em conta que, nos próximos 10 anos, o crescimento também está baseado em expansão de área e que ocorrerá em terras com potencial produtivo, convertendo áreas particularmente degradadas oriundas de pastagens extensivas, e que a produtividade e as tecnologias irão operar juntas neste crescimento mais sustentável.
Em se tratando de preços das commodities, de acordo com a Conab, atualmente o produtor recebe em média R$ 117,97 por saca de 60kg de soja. Tendo em vista o preço mínimo básico de R$ 96,71 para uma comercialização saudável, pode-se dizer que o patamar atual é favorável (preço médio recebido pelo produtor acima do preço mínimo). Por outro lado, o preço médio de milho está desfavorável, sendo comercializado por R$ 35,10 a saca de 60kg, enquanto o preço mínimo básico é de R$ 43,26 por saca.
Vale destacar que hoje o Brasil representa 41% da produção total de soja no mundo, ocupando a liderança, e 11% da produção total de milho do planeta, ocupando a 3ª posição. Considerando um período de 20 anos, a produtividade de soja passará de 2.815,48 kg/ha para 3.508,00 kg/há, um aumento de 24,6%. Para milho, houve um crescimento expressivo de 65,2%, passando de 3.584,68 kg/ha para 5.921,94 kg/ha. Essa evolução de produtividade se deve ao aumento de tecnologia utilizada pelo produtor rural e a inovações realizadas pelas indústrias químicas e de maquinários agrícolas.
Por: Marco Cunha – gerente de Distribuição e Relacionamento da Ourofino Agrociência