Exposição “Acampamento Terra Livre 20 Anos” é opção de programa cultural gratuito para as férias de julho na capital federal

A exposição “Acampamento Terra Livre 20 anos”, organizada pelo Greenpeace Brasil em parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), fica em cartaz na capital federal até 1º de setembro, com entrada gratuita. Em exibição no Memorial dos Povos Indígenas, fotos históricas da luta dos povos originários e exemplares da arte manual de diferentes etnias já foram conferidas por mais de 7 mil visitantes.

Com o tema “Nosso Marco é Ancestral: sempre estivemos aqui”, a seleção reúne 45 imagens ampliadas (53 cm x 80 cm). É um convite para uma imersão no histórico de luta dos povos indígenas, relembrando a trajetória de resiliência e força de várias nações e destacando a posição contrária ao Marco Temporal, tese ruralista e anti-indígena que visa reprimir direitos dos povos originários do Brasil. Além das fotografias, a exposição apresenta itens artesanais de diversos povos indígenas, como os Kayapó, Matipu, Fulni-ô, Pataxó, Krahô, Guajajara, Truká e Sateré-Mawé.

Entre os destaques da exposição está um trabalho da cacica Lúcia Paiacu Tabajara, dos povos da etnia Paiacu do Apodi, do Rio Grande do Norte. Utilizando o tecido de uma rede, a artista criou a obra inspirada na tela “Mulher Tapuia”, feita pelo pintor holandes Albert Eckhout (1610-1665), que retrata marcos dos povos indígenas do Nordeste e o domínio holandês no estado, que ocorreu de 1635 a 1656.

“Gosto muito de pintar e falar sobre a história dos povos Tapuia do Nordeste, do povo Paiacu, dos Tarairiú, dos Caboré, são povos muito fortes e resistentes. Para mim, essas etnias nunca deixaram de existir, por isso faço essa homenagem. Eu ia presentear o presidente Lula com essa arte. No dia da reunião com ele, eu passei em frente à exposição do Greenpeace Brasil sobre o ATL e senti que era ali que a rede deveria ficar. Então, peguei a pintura e entreguei de todo coração, como um presente em nome do povo Paiacu do Apodi”, destaca.

Lúcia diz que, por meio de suas pinturas, seu objetivo é destacar a cultura, os costumes e as histórias dos povos originários. “Quero resgatar toda a riqueza e culturas dos povos originários com a minha arte – sempre fomos muito guerreiros e isso não pode ser silenciado com o tempo. Resgatamos uma história que ficou mais de 300 anos esquecida, nosso povo participou da Guerra dos Bárbaros como aliados dos holandeses e não se curvou aos rivais. No entanto, quase ninguém sabe disso, porque esses registros foram apagados”, finaliza a cacica, que há 10 anos também fundou um museu no Rio Grande do Norte, para manter viva a memória indígena.

20 anos do Acampamento Terra Livre

Visitantes da exposição podem conferir imagens produzidas por 13 fotógrafos, entre eles profissionais que colaboram com o Greenpeace Brasil ao longo dessas duas décadas, fotojornalistas do portal Mídia Ninja e do ativista Egon Heck, ex-padre e ativista da causa indígena há mais de 50 anos. As fotografias capturam momentos que marcaram a luta indígena no Brasil, como as mobilizações pela homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a proteção do rio Xingu contra a hidrelétrica de Belo Monte e a luta contra o Marco Temporal em 2021 e 2022.

A exposição tem também um QR Code onde os visitantes podem acessar e assinar a petição “A Ameaça do Marco Temporal Voltou”, que pede a derrubada da Lei 14.701. Promulgada pelo Congresso Nacional no final de 2023, essa lei dificulta a demarcação de terras indígenas e restabeleceu a tese do Marco Temporal, prejudicando ainda mais a luta dos povos indígenas por seus territórios. Mais de 25 mil pessoas já assinaram a petição.