A revolução tecnológica na comunicação digital trouxe mudanças significativas à esfera pública, mas como isso afetou a qualidade dos debates políticos? Como podemos manter a promessa de uma democracia verdadeiramente participativa diante da predominância das plataformas digitais, que muitas vezes geram ruídos incessantes em bolhas de opinião autossustentáveis?

Em um mundo onde a disseminação de notícias falsas é uma realidade, é crucial garantir que nossa estrutura midiática continue a promover a inclusão na esfera pública e a facilitar debates construtivos na formação da opinião e da vontade públicas, cumprindo assim um papel fundamental na democracia. São esses aspectos que Jürgen Habermas, um dos mais importantes filósofos da atualidade, analisa em Uma nova mudança estrutural da esfera pública e a política deliberativa, lançado pela Editora Unesp no Brasil.

“A questão que serve de fio condutor dos diagnósticos das mudanças estruturais da esfera pública e está na base da teoria crítica da democracia em Habermas consiste em examinar as condições sociais (materiais e simbólicas) e institucionais necessárias para a realização efetiva de práticas de autodeterminação política entre cidadãos livres e iguais que, pelo uso público de sua razão, isto é, pela discussão mediante razões, deliberam e tomam decisões coletivas sobre diversas questões políticas de interesse comum”, anotam Denilson Luís Werle e Rúrion Melo na apresentação à edição brasileira. “Trata-se de uma questão que envolve dimensões teórico-explicativas de diagnóstico do tempo presente, bem como dimensões normativas sobre como entender o uso público da razão – no caso de Habermas, entender o que é a política deliberativa. E a esfera pública é a categoria central para responder à questão em suas duas dimensões.”

Ao longo do livro, Habermas discute a necessidade de explorar novas hipóteses de pesquisa que possam oferecer respostas à questão central que tem norteado suas reflexões sobre as interações entre moral, política e direito. Essa questão fundamental diz respeito à viabilidade de atualizar nossa capacidade de engajamento político, ou seja, como podemos conscientemente guiar nossas vidas por meio da autodeterminação política e autogovernança, fazendo uso público da razão, especialmente considerando o contexto das sociedades democráticas contemporâneas, que são diversas e complexas e frequentemente enfrentam crises desafiadoras.

“Para esse fim, consegui me atualizar sobre o estado da discussão especializada através das contribuições que [Martin Seeliger e Sebastian Sevignani] reuniram em um volume especial da revista Leviathan, que nesse ínterim acabou sendo publicada”, explica Habermas, no prefácio. E complementa: “Não é nenhuma surpresa que atualmente o tema esteja atraindo um interesse tão amplo. Por isso, decidi tornar acessível a um público mais geral a minha própria contribuição ao volume acima mencionado, mas em uma forma ligeiramente revisada.”

Sobre o autor

Um dos mais importantes filósofos da atualidade, Jürgen Habermas, nascido na Alemanha em 1929, criou uma visão sobre as relações entre linguagem e sociedade. Foi professor de Filosofia da Universidade de Heidelberg e da New York School for Social Research, além de codiretor do Instituto Max Plank para a Investigação das Condições de Vida do Mundo Técnico-Científico, em Starnberg. Pela Editora Unesp, já são 17 obras do pensador publicadas na Coleção Habermas.

Título: Uma nova mudança estrutural da esfera pública e a política deliberativa

Autor: Jürgen Habermas

Tradução: Denilson Luís Werle

Apresentação à edição brasileira: Denilson Luís Werle e Rúrion Melo

Número de páginas: 127