Grupo investiga microbiota intestinal do gado nelore em busca de biomarcadores para seleção animal

Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão analisando como a microbiota intestinal do gado nelore influencia tanto a eficiência alimentar — a capacidade de transformar alimento em energia — quanto a emissão de metano. O estudo, apresentado pela pesquisadora Luciana Regitano no FAPESP Day Uruguay, busca identificar marcadores biológicos que ajudem a selecionar animais que engordam mais facilmente e poluem menos.

Segundo Regitano, a equipe iniciou o trabalho coletando amostras de rúmen e de fezes de 52 animais experimentais. A inovação, destaca ela, foi demonstrar que a análise microbiológica pode ser feita usando apenas fezes — procedimento mais simples e menos invasivo que a coleta de material diretamente do rúmen, até então predominante na literatura científica.

Com essa metodologia, o grupo ampliou o escopo da pesquisa e já aplicou a técnica em 640 animais comerciais. Por meio de análises metabolômicas e metagenômicas, foram identificados diversos marcadores capazes de prever características como tendência à emissão de metano e capacidade de ganho de gordura. O estudo também revelou centenas de espécies microbianas inéditas.

Regitano adiantou que um trabalho em fase final de publicação traz um catálogo de todos os genes expressos pelos microrganismos presentes no rúmen do nelore. O levantamento mostra que o nível de expressão desses genes altera o fenótipo do animal. “Identificamos enzimas ligadas tanto à eficiência alimentar quanto à emissão de metano, o que amplia as possibilidades para o desenvolvimento de novos bioprodutos”, afirmou.

Entre as aplicações em estudo está a manipulação da microbiota por meio de prebióticos — substâncias que nutrem microrganismos benéficos. A equipe já encontrou, por exemplo, substratos como o farelo de amendoim, capaz de estimular a produção de enzimas que reduzem a emissão de metano. Outra linha de pesquisa avalia a clonagem de genes de enzimas-alvo para produção em laboratório, seja como suplemento para o gado, seja para tratamento de alimentos. Há também perspectivas de utilização de enzimas bovinas degradadoras de celulose na produção de etanol de segunda geração.

A equipe agora investiga como a microbiota pode influenciar o comportamento do nelore, tornando-o mais ou menos reativo. “Os microrganismos produzem neurotransmissores que afetam o sistema nervoso dos bovinos. Essa é a explicação mais direta, mas estamos analisando outros mecanismos”, explicou a pesquisadora.

A sessão “Estratégias e políticas para a produção sustentável de proteína animal” contou ainda com a participação de Sérgio de Zen (USP), Fabio Montossi (INIA) e Federico Garcia (UdelaR). Segundo Regitano, Montossi demonstrou interesse em estudar como diferentes pastagens interferem na microbiota, o que pode gerar futuras colaborações. “O evento abriu portas importantes para parcerias”, avaliou.