Projetos sociais “Flores do Cerrado” e “Elas” capacitam mulheres e promove empoderamento
Iniciativas levam às comunidades do Distrito Federal mais do que capacitação em corte e costura, proporcionando acolhimento emocional e autonomia financeira a mulheres em situação de vulnerabilidade
Aos olhos de quem passa por uma oficina de corte e costura, a cena pode parecer comum: máquinas de costura operando, tecidos espalhados, alunas concentradas em aprender uma nova habilidade. No entanto, para as participantes dos projetos “Flores do Cerrado” e “Elas”, essa realidade representa muito mais do que a simples confecção de roupas. São iniciativas que nasceram para transformar vidas, oferecendo oportunidades de capacitação profissional e acolhimento para mulheres em situação de vulnerabilidade social.
Idealizados pelo produtor Fábio Barrera, os projetos já impactaram diretamente a vida de mais de 400 mulheres no Distrito Federal, não apenas ensinando ofícios, mas proporcionando uma nova visão de si mesmas e do futuro. O nascimento das iniciativas está diretamente vinculado ao agravamento de situações de vulnerabilidade durante a pandemia de COVID-19. Além das dificuldades econômicas, o confinamento contribuiu para o aumento expressivo dos casos de violência doméstica, sobretudo nas periferias. Esse cenário, somado à falta de oportunidades de qualificação profissional, motivou Fábio Barrera a desenvolver a ação voltada para a capacitação de mulheres de baixa renda.
O “Flores do Cerrado” foi o primeiro a ser implementado, começando suas atividades no Recanto das Emas, região a 30km do centro de Brasília. A proposta inicial era simples: oferecer aulas de corte e costura, uma habilidade que poderia gerar renda. Contudo, o que começou como um capacitação logo se transformou em um espaço de acolhimento e empoderamento, onde as mulheres encontraram não apenas uma oportunidade profissional, mas também um lugar para compartilhar suas histórias e lidar com traumas e desafios.
Para muitas participantes, como Silvana, costurar era um sonho distante. “Eu sempre quis fazer as minhas próprias roupas, mas não tinha ideia de como começar”, relata. O manuseio da máquina de costura, no início, foi um grande desafio, mas o apoio das instrutoras e das colegas de curso tornou a jornada mais leve. “A professora me ajudou muito e, hoje, me sinto capaz de criar peças que nunca imaginei que conseguiria”. A trajetória de Silvana é semelhante a de muitas outras mulheres que passaram pelos projetos. Maria Selma, outra aluna, conta que sempre foi a única mulher de sua família que não sabia costurar. “Agora, me sinto orgulhosa, porque não só aprendi a técnica, mas já consigo produzir peças para vender e ganhar meu dinheiro”, exalta a aluna.
Esses relatos evidenciam a importância da qualificação, que vai além da técnica e proporciona confiança e independência para as participantes. A autonomia financeira é um dos principais objetivos de Barrera. “A dependência econômica mantém muitas mulheres em situações de abuso. Ao capacitá-las, estamos dando a elas ferramentas para que possam reconstruir suas vidas”, afirma o idealizador. As mulheres, ao dominar a costura, passam a ter a oportunidade de criar seus próprios negócios, promovendo não apenas a sustentabilidade financeira, mas também uma nova visão sobre o futuro.
Desafios e Expansão dos Projetos
O sucesso do “Flores do Cerrado” foi tão grande que ele rapidamente se expandiu para outras regiões do DF, como Samambaia, Estrutural, Varjão, Brazlândia, Riacho Fundo, São Sebastião e Taguatinga. Cada localidade apresenta suas particularidades, mas as dificuldades enfrentadas pelas participantes são, em grande medida, semelhantes. A violência doméstica, a exclusão social e a falta de oportunidades de trabalho são desafios recorrentes, mas também há um forte desejo de transformação entre as mulheres que participam dos cursos. “A cada nova turma, vemos como essas histórias se repetem, mas o mais interessante é que todas compartilham o desejo de mudar”, comenta Barrera.
Thaís, outra participante do projeto, conta que a experiência foi transformadora: “Eu comecei no Flores e terminei o curso no ‘Elas’. Hoje, posso dizer que tenho uma profissão. Antes, eu não sabia nada de corte e costura, mas agora faço minhas próprias roupas e até penso em empreender.” O empreendedorismo é, de fato, uma das metas dos dois projetos. Além de capacitar as alunas tecnicamente, as ações incentivam o desenvolvimento de habilidades que possam levar as mulheres à independência financeira. “Queremos que elas vejam o quanto são capazes de criar e de se sustentar através de seu trabalho”, afirma Barrera.
Durante o período de curso, as aprendizes recebem todo o suporte necessário, desde o cuidado com os filhos, até alimentação nos dias de aula. “Nós oferecemos uma cuidadora para as crianças, para que as mães possam se dedicar ao aprendizado”, explica o produtor. Essa estrutura de apoio é fundamental para o sucesso dos projetos e a participação das mulheres durante todo o período de curso.
É possível conhecer diversas histórias de superação de alunas e ex-alunas dos projetos. “Eu estava em depressão e, no primeiro dia de aula, pensei em desistir. Mas um dos coordenadores me chamou para conversar, me deu um copo d’água e disse que eu era inteligente demais para desistir. Esse gesto mudou tudo”, diz Leudenir. “A gente ganha confiança e, o mais importante, vê que é capaz de mudar a própria vida”. Os projetos “Flores do Cerrado” e “Elas” mostram que, com acolhimento, capacitação e empoderamento, é possível transformar a vida de mulheres que, muitas vezes, são invisíveis para a sociedade.