Estudantes brasileiros não têm interesse em graduação 100% à distância

Pesquisa divulgada pela ABRAFI mostra que presencialidade está entre os aspectos mais valorizados por quem cursa a educação superior. Barreiras da EAD também foram mapeadas e indicam melhorias que podem reduzir a evasão nesses cursos.

Os estudantes de graduação não têm preconceito com a educação à distância, mas não estão satisfeitos com a qualidade do serviço ofertado pelas instituições brasileiras de educação superior. Essa é uma das constatações da pesquisa inédita lançada nesta quarta-feira (20) pela Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades (ABRAFI).

Questionados sobre as duas modalidades de ensino regulamentadas no Brasil, estudantes devidamente matriculados em faculdades de todo o país demonstraram maior interesse pelo ensino presencial: 52,9%. Os que preferem a EAD totalizaram 32,3% e outros 14,8% não fazem distinção. Tendo em vista que a pesquisa buscou ouvir alunos de ambas as modalidades de forma equilibrada, o resultado mostra que uma parcela significativa daqueles que estão matriculados em cursos à distância gostariam de estar cursando uma graduação presencial.

Para o presidente da ABRAFI, Paulo Chanan, esse resultado indica a relevância do estudo, já que o mapeamento da preferência se deu juntamente com o levantamento das principais dificuldades enfrentadas pelos discentes dos cursos EAD. “Hoje conseguimos entender os principais pontos que podem estar contribuindo para a evasão de quase 65%, em média, dos alunos matriculados nos cursos à distância. Nossa expectativa é a de que, de posse dessas informações, os gestores das instituições consigam aprimorar sua oferta, reduzindo a possibilidade de que o aluno desista da graduação”.

Barreiras da EAD
Para 40,92% dos entrevistados a principal desvantagem dos cursos EAD é o fato de não oferecerem suporte para o devido saneamento de dúvidas, ou seja, o aluno sente-se sozinho no ambiente virtual de aprendizagem.

Outros aspectos apontados referem-se à qualidade do material didático (9,9%) e à falta de prestígio das faculdades EAD no mercado de trabalho (34,2%). Para se ter ideia da percepção dos estudantes em relação à qualidade da educação à distância, apenas 20,4% dos entrevistados avaliaram que a qualidade da EAD é igual ou superior à oferecida na modalidade presencial.

Além do dinheiro
Contrariando a percepção do setor privado de educação superior, o valor das mensalidades não é o principal atrativo considerado pelos estudantes na hora de optar pela modalidade à distância.

Embora a maior parte (86,45%) tenha consciência de que as graduações presenciais são mais caras, para 59,91% dos entrevistados o preço tem o mesmo peso de outros fatores na hora da escolha. Esse aspecto foi apontado como o mais relevante para 31% dos entrevistados.

Presencialidade
Um ponto que ficou bastante evidenciado na pesquisa é o baixo interesse por cursos 100% à distância. Ainda que a parte teórica seja ofertada totalmente de forma remota, 63,76% dos entrevistados consideram relevante ter ao menos uma parcela da parte prática de forma presencial. Apenas 20,49% consideram ser melhor a ausência de atividades práticas presenciais nos cursos à distância. Para 15,76% dos respondentes, esse aspecto é indiferente.

Ainda em relação a essa questão, ao responderem sobre qual modalidade optariam caso o curso EAD custasse o mesmo preço e tivesse as mesmas condições de pagamento do curso presencial, 51% dos entrevistados fariam opção pela modalidade presencial contra 21,54% que escolheriam a modalidade EAD (desde que as atividades práticas fossem garantidas na modalidade presencial), ou seja, para 72,54% a presencialidade é um fator muito importante, mesmo que seja apenas nas atividades práticas.

Sobre o levantamento
Desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Universidade de Guarulhos (UNG), o estudo encomendado pela ABRAFI ouviu 4.081 estudantes matriculados em instituições de educação superior de todas as regiões e estados do país.

Os participantes responderam sobre aspectos como a preferência em relação à modalidade de ensino; a existência de aulas práticas presenciais nos cursos EAD; as expectativas em relação à forma de oferta da parte prática do curso; e a percepção em relação à qualidade das modalidades de ensino.

A maior parte dos entrevistados é composta por mulheres (73,56%), tem até 24 anos (30,53%) e renda familiar mensal de até R$ 2,9 mil (58,10%).

Sobre a EAD
Dados do último Censo da Educação Superior, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram o crescimento expressivo da educação à distância ao longo dos últimos 10 anos.

Entre 2012 e 2022, a quantidade de ingressantes nos cursos presenciais variou em -24,9% enquanto nos cursos à distância aumentou 471,4%. Com isso, a participação de novos estudantes em cursos EAD que, em 2012, era de 19,8%, saltou para 65,2% em 2022.

Sobre a ABRAFI
Fundada em 2005, a Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades surgiu com o intuito de defender e postular legitimamente os interesses das faculdades, uma vez que, até então, esse segmento encontrava-se em desvantagem e sem defesa legítima junto aos órgãos do poder público responsáveis pelo segmento.