Goiânia recebe espetáculo premiado “Tom na Fazenda”
Nesta triste realidade de homofobia, mentir é a primeira condição de sobrevivência
O drama conta a história de Tom, um personagem que viaja para uma fazenda, no interior rural, para uma última despedida de seu companheiro em seu funeral. Neste lugar, ele conhece sua sogra, que nunca soube da orientação sexual de seu filho falecido e seu cunhado, um camponês viril e violento, que insiste através de violência que Tom esconda o relacionamento de sua mãe enlutada.
Nesta triste realidade de homofobia, mentir é a primeira condição de sobrevivência. Sangue e lama sujam as palavras e engrandecem os corpos transfigurados pelas emoções para revelar a grandeza trágica e universal deste texto necessário.
Escrito pelo canadense Michel Marc Bouchard e com direção de Rodrigo Portella, o espetáculo apresenta duas sessões em Goiânia, nos dias 27 e 28 de julho. No elenco estão Armando Babaioff, idealizador do projeto e responsável pela tradução e adaptação do texto, Camila Nhary, Gustavo Rodrigues e Denise Del Vecchio.
Trajetória
Em cartaz desde 2017, Tom na Fazenda acumula mais de 25 prêmios recebidos. Entre os principais estão os de Melhor Espetáculo, no Festival TransAmériques, em Montreal no Canadá, de Melhores Ator e Diretor pelo 12º APTR e de Melhor Diretor no 30º Shell, ambos na cidade do Rio de Janeiro, e de Melhor Espetáculo na 63ª Edição do APCA, em São Paulo.
“Tom na Fazenda contempla muitas coisas que fazem com que as pessoas que assistem o espetáculo saiam emocionadas, recomendem, indiquem e até voltem a assistir mais de uma vez. O que tem feito essa peça continuar é o público. É por ele que mesmo sem patrocínio continuamos. Então eu acho que tem um lugar de responsabilidade social muito grande em produzir um espetáculo como esse, sinto que ele precisa ser visto, no Brasil e no exterior”, afirma Armando Babaioff.
O ator e idealizador do projeto ainda destacou que são quase 450 apresentações. “Está chegando numa marca de, acho que, aproximadamente 80 mil espectadores. E para teatro, isso é muito raro. Ainda mais se tratando de uma peça com essa temática, né?”
Turnê na Europa
A peça acaba de realizar uma turnê de cinco meses, onde lotou 45 apresentações em 27 importantes palcos da França, Bélgica e Suíça. O sucesso internacional teve como ponto de partida um prêmio da crítica, recebido em Quebec, no Canadá, e temporada em 2022 no Festival de Teatro de Avignon, na França, tornando-se a principal atração. O que deu início a uma série de convites.
Questionado sobre o que o mais marcou nesta turnê, Armando enfatizou que “foram cinco meses viajando pela Europa fazendo teatro em português, isso é raro, até mesmo para as companhia de teatro na França, é um feito para o teatro brasileiro. Uma peça falada em português, com legendas em francês. Eu nunca tinha experimentado nada parecido, fazer teatro no exterior dessa maneira. Viajando por 27 cidades, sendo 45 apresentações. Teatros dos mais variados, grandes, pequenos, modernos, seculares e um público ávido por ver o que os artistas brasileiros têm a dizer. Vivenciamos diversos tipos de reações diferentes, você perde um pouco a referência do público brasileiro e aí você passa a entender o olhar de uma outra cultura. Mudanças de reações, a hora que o público ri, que é diferente. Algumas coisas aconteceram, que para mim, foram muito emocionantes também. Uma delas foi uma mulher, no final de uma das apresentações em Toulouse, durante os aplausos ela jogou confete em formato de coração no palco, uma chuva de corações coloridos, teve também um senhor que deixou um buquê de flores no palco. Vou lembrar disso para o resto da minha vida”.