Povo Romani: resistência, cultura e busca por direitos no Brasil
O Brasil abriga entre 800 mil e 1 milhão de pessoas do povo romani, conhecido popularmente como ciganos, segundo dados do IBGE. Mesmo com presença no país desde o século 16, essa população segue entre as mais invisibilizadas, enfrentando preconceito, racismo e exclusão social.
Composto por etnias como calon, rom e sinti, o povo romani tem uma história marcada pela diáspora, perseguição e genocídio — incluindo as políticas de higienização étnica na Europa e o extermínio promovido pelo regime nazista. No Brasil, esses povos começaram a chegar a partir de 1574 e, décadas depois, passaram a ser deportados diretamente de Portugal para colônias como o Maranhão.
Apesar de séculos de presença no país, ainda lutam por acesso a direitos básicos como educação, moradia, saúde, trabalho e respeito às suas tradições. “Nosso sangue é vermelho como o de qualquer outro. Somos seres humanos como todos”, afirma Wanderley da Rocha, presidente da Associação Nacional das Etnias Ciganas (Anec).
O fundador da Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci), Claudio Iovanovitchi, reforça: “Não queremos privilégios, queremos o que qualquer cidadão tem direito, como educação, saúde e habitação, mas com respeito às nossas especificidades.”
Plano Nacional e luta por políticas públicas
Em 2024, o governo federal lançou o Plano Nacional de Políticas para Povos Ciganos, que estabelece diretrizes até 2027, incluindo ações voltadas para:
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Combate ao preconceito e ao anticiganismo
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Reconhecimento da territorialidade tradicional
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Direito à cidade
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Acesso à educação, saúde, documentação civil, segurança alimentar, trabalho e renda
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Valorização da cultura romani
O Brasil se tornou o segundo país no mundo a adotar uma política nacional específica para os povos ciganos, mas as lideranças alertam: é preciso que o plano saia do papel.
Estatuto dos Povos Ciganos segue parado
Outra demanda histórica é a aprovação do Estatuto dos Povos Ciganos, que tramita na Câmara dos Deputados desde 2022. O texto, já aprovado no Senado, estabelece garantias legais de acesso a políticas públicas e de proteção contra discriminação. As lideranças cobram que o Congresso avance na pauta.
Desafios persistem
O pesquisador Felipe Berocan Veiga, da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que o preconceito contra ciganos tem raízes profundas na cultura ocidental, alimentado por estigmas, lendas e medos inconscientes que se refletem em violência e exclusão até hoje.
O multiartista e ativista Aluízio de Azevedo, da etnia calon, lembra que, durante décadas, ações violentas chamadas de “correrias ciganas” eram comuns — quando acampamentos eram invadidos e famílias inteiras forçadas a fugir. “Isso aconteceu até a década de 1970, e infelizmente, em alguns casos, ainda se repete”, alerta.
Neste 24 de maio, Dia Nacional do Povo Cigano, as vozes do povo romani ecoam mais uma vez, reivindicando não só respeito, mas espaço nas políticas públicas, na sociedade e no futuro do Brasil.