‘Um em cada três hospitais deixou de funcionar’, alerta ONG sobre caos humanitário em Gaza
Jason Lee, diretor da ONG Save the Children (Salve as Crianças, em português) nos territórios palestinos ocupados, teme que 130 bebês recém-nascidos prematuros corram o risco de morrer por causa da falta de combustível para equipamentos. O diretor da ONG contou em entrevista à jornalista Heike Schmidt da RFI, que muitas famílias fazem apenas uma refeição por dia e alertou para a falta de hospitais funcionais, já que “um em cada três hospitais deixou de funcionar”, seja porque foi danificado ou porque “não há mais combustível para fazer funcionar o equipamento”.
Lee disse que metade dos mais de 2 milhões de habitantes de Gaza são crianças: “Elas tiveram que fugir de suas casas com seus pais para se abrigar em escolas. Mas não há mais comida ou água. Vou lhe dar o exemplo de um acampamento no sul de Gaza, em Khan Younès, onde 23 mil pessoas se refugiaram. Eles têm apenas 16 banheiros. Sem água, é impossível garantir um mínimo de higiene. As doenças infecciosas estão aumentando. As crianças estão sofrendo de diarreia. Há apenas um litro de água potável por pessoa por dia”, retrata.
Grávidas também sofrem as consequências da guerra, já que cerca de 50 mil mulheres estão esperando para dar à luz, enquanto as incubadoras que ainda funcionam recebem os 130 bebês prematuros atualmente em Gaza, mas deixarão de funcionar em breve devido à falta de combustível.
“Não há um único lugar seguro em Gaza, seja no norte ou no sul, pois os bombardeios continuam. Mais de 3 mil crianças já foram mortas e, dos 18.500 feridos, um em cada três é uma criança”, contabiliza Lee.
Cessar-fogo pela infância
O diretor implora: “Em nome de todas as crianças de Gaza, apelo a um cessar-fogo imediato. Devemos proteger a população civil. Em segundo lugar, há necessidade de acesso para entregar ajuda humanitária a Gaza. Os estoques de alimentos acabarão em alguns dias. O abastecimento de água não é mais garantido. As pessoas são forçadas a beber água suja e água salgada. Porque as estações de tratamento de águas residuais já não funcionam. As bombas d’água não funcionam mais porque não há mais combustível. Estimamos que metade da infraestrutura que fornece água foi danificada pelos bombardeamentos”, descreve.
Ele implora que os trabalhadores humanitários, como ele, precisam ter acesso para identificar crianças que precisam de ajuda. “Precisamos abrir pontos de distribuição. É vital! 18.500 pessoas estão feridas e precisam de cuidados. Duas mil crianças continuam desaparecidas e acreditamos que estejam sob os escombros”, lamenta.
Jason Lee chama atenção também para as “consequências a longo prazo para a saúde mental e as necessidades psicológicas destas crianças”.
“As crianças pequenas não entendem necessariamente o que está acontecendo ao seu redor, mas veem, ouvem e sentem absolutamente tudo o que está acontecendo. Eles estão aterrorizados. Todos os nossos estudos demonstram o impacto da violência e do conflito nas crianças: elas são mais ansiosas do que outras, ficam mais frequentemente deprimidas e sentem-se abandonadas. Não devemos considerar apenas as lesões físicas destas crianças, mas também a sua saúde mental. Estas crianças crescem sem esperança e sem confiança no futuro. Devemos restaurar esta esperança e demonstrar-lhes que existe uma ordem mundial baseada na lei. Que existem leis e obrigações internacionais que protegem as crianças… e que TODAS as crianças têm direito a elas, independentemente de quem sejam ou onde vivam”, disse Lee.
Posicionamento francês
O Ministério das Relações Exteriores da França descreveu neste domingo como “inadmissível” a violência perpetrada pelo exército israelenses contra a população palestina em Gaza, em um comunicado oficial.
“A França condena veementemente os ataques de colonos que causaram a morte de vários civis palestinos nos últimos dias em Qusra e el-Sawiya, bem como a saída forçada de várias comunidades”, diz o documento.
“A violência perpetrada pelos colonos contra a população palestina está aumentando. Eles são inaceitáveis e devem parar”, acrescentou o texto, que pediu a Israel que “tome medidas imediatas para proteger a população palestina”.
Um palestino foi morto no sábado (28) por um israelense no vilarejo de Sawiya, perto de Nablus, anunciou o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina. Quatro palestinos foram mortos em um ataque de colonos israelenses armados no vilarejo de Qusra em 11 de outubro, de acordo com a mesma fonte.
Mais de 100 palestinos foram mortos nas operações do exército israelense desde o início da guerra na Faixa de Gaza entre o Hamas e Israel em 7 de outubro, após um ataque sangrento sem precedentes do Hamas que deixou mais de 1.400 israelenses, principalmente civis, mortos.
A situação do território, ocupada por Israel desde 1967, já era tensa antes dessa guerra, com ataques regulares das forças israelenses e um aumento nos ataques dos colonos israelenses contra a população palestina. (Com informações da AFP)