Goiânia discute estratégias para adaptação urbana às mudanças climáticas

Relatório do projeto Cidades Resilientes propõe ações para fortalecer a resiliência climática na capital goiana

As mudanças climáticas chegaram para ficar. As chuvas intensas e as consequentes inundações e alagamentos, logo depois de uma das secas mais severas já registradas no centro-norte do Brasil, são evidência incontestável desse fato. Diante desse cenário, é urgente discutir estratégias de adaptação, especialmente para as áreas urbanas, aos impactos dessas mudanças do clima.

Para isso, o Instituto Iandé Verde e o IDESA, Instituto de Desenvolvimento ‘Econômico e Socioambiental, em parceria com a Iniciativa Cerrados da Fundação Oswaldo Cruz e o Ciamb, Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFG, lançam o projeto Cidades Resilientes, com o objetivo de discutir os desafios das mudanças climáticas nas cidades e estratégias nesse sentido para Goiânia. A iniciativa tem o apoio da Prefeitura, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas, e foi viabilizada por uma emenda da vereadora Sabrina Garcez.

O projeto acaba de disponibilizar seu relatório preliminar, que compila o conhecimento científico atual sobre os impactos das mudanças do clima no Cerrado e faz um diagnóstico das vulnerabilidades ambientais e sociais de Goiânia para apontar os principais efeitos a serem enfrentados. De outro lado, traça um panorama das políticas e mecanismos existentes, bem como de suas lacunas, para sugerir estratégias a serem debatidas para a cidade. O documento pode ser baixado no site do projeto.

O relatório relembra eventos recentes, como os altos índices de poluição durante a última seca agravados pelas queimadas, para indicar que os maiores desafios de Goiânia possivelmente não se relacionam às chuvas – embora elas também imponham ações de adaptação -, mas sim à estiagem, à possibilidade de escassez de água e aos impactos sobre a saúde trazidos pela baixa umidade e pela poluição do ar. O documento aponta também que esses eventos impactam de forma desproporcional as populações mais vulneráveis, especialmente em áreas periféricas, onde fatores sociais, ambientais e climáticos se somam para agravar diretamente problemas relacionados aos direitos humanos.

Nesse sentido, o geógrafo e cientista ambiental Pedro Novaes, um dos coordenadores do projeto, explica que “não cabe falar em desastres naturais diante desses desafios; os efeitos de eventos climáticos são resultado da soma de riscos naturais, como esses agora trazidos pelo aquecimento global, à vulnerabilidade de determinados grupos sociais e indivíduos, em função de sua exposição a esses riscos gerada por fatores econômicos e sociais. Por isso, os impactos tendem a ser muito mais severos sobre os mais pobres”, aponta.

A iniciativa alinha-se a pactos globais, como o Acordo de Paris e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, e considera o papel central dos governos locais no cumprimento dessas metas. Com base nesses princípios, o documento propõe ainda caminhos para que Goiânia se sintonize às políticas e redes de financiamentos globais dedicadas ao enfrentamento da crise climática.

Entre as medidas sugeridas, estão a criação de um órgão na Prefeitura para coordenar as ações ligadas à mudança do clima, a elaboração de um plano municipal de mudanças climáticas, a criação de uma rede de monitoramento e alerta para a poluição do ar e a revisão do Plano Municipal de Saneamento, entre outras.
Com foco em consolidar uma política de resiliência, o projeto se concluirá com a realização, entre os dias 25 e 26 de novembro, do Fórum Goiânia Resiliente para debater o relatório e discutir estratégias de adaptação para a cidade.

O evento acontecerá no auditório do IESA, no Campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG), e contará com especialistas e gestores públicos de diferentes partes do país, com o intuito de catalisar a necessária mudança estrutural na forma como Goiânia lida com os desafios climáticos. A expectativa é a de entregar o relatório para o prefeito eleito Sandro Mabel e de que o projeto sirva como ponto de partida para um compromisso permanente da cidade com a sustentabilidade e a proteção dos direitos de todos os seus habitantes diante dos desafios climáticos.
O evento será aberto e a programação preliminar já está disponível.