“Câncer infantil não é uma sentença de morte”, explica pediatra

A pesquisa “Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil”, realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que o País deve registrar em torno de 8 mil novos casos anuais de câncer em crianças e adolescentes. O número é alarmante, porém a médica pediatra Loretta Campos, fundadora do Espaço Zune, explica que com conscientização e o acompanhamento correto não há motivo para pânico.

“Existe uma associação do diagnóstico de câncer a uma sentença de morte. Por isso, é muito importante entendermos que na criança existem boas taxas de cura, especialmente no diagnóstico precoce. Assim, diagnosticar precocemente é o caminho para mudar a sobrevida do câncer infantil e a taxa de resposta, para que não tenhamos cânceres avançados e metastáticos”, pontua.

Câncer infantil é diferente

Ao longo do ano temos várias campanhas de alerta para prevenção e cuidados com diferentes tipos de cânceres, mas é importante entender que o câncer infantil é diferente da manifestação da doença que acomete adultos. “Normalmente, o câncer no adulto surge da exposição a alguns fatores externos, a algum fator ambiental, como, por exemplo, o tabagismo, as bebidas alcoólicas, maus hábitos de vida como a ingesta de embutidos com frequência etc.”, esclarece a médica.

Já os casos envolvendo crianças são desencadeados por falhas nas células que formam o embrião. Sendo assim, é possível que ela já nasça com câncer ou desenvolva a doença em idades muito precoces. Contudo, a pediatra cita o retinoblastoma – tumor que afeta a retina da criança -, que pode surgir de forma esporádica ou ter origem hereditária. Para todos os efeitos, a médica Loretta Campos afirma que as formas mais comuns de câncer infantil são a leucemia – leucemia linfoide aguda – e o tumor cerebral.

Sinais e diagnóstico precoce

Em 2023 já foram registrados pelo menos 280 novos casos de câncer infantil em Goiás e os dados do Inca estimam chance de sobrevivência de até 65% na região Centro-Oeste (atrás dos 75% e 70% das regiões Sul e Sudeste respectivamente). Como a especialista ressalta, o diagnóstico precoce é a melhor forma de aumentar a taxa de cura e, para isso, tanto a atenção a sinais e sintomas quanto a realização de consultas e exames de rotina são fundamentais.

“Como muitas vezes o câncer da criança não tem um fator externo como acontece no adulto que come muito industrializado ou é fumante, por exemplo, a melhor forma de prevenirmos é realizar as consultas de rotina do período recomendo pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Com o exame físico podemos fazer a suspeita clínica, o que auxilia no diagnóstico mais precoce”, argumenta.

Nos casos de leucemia, que é um tumor que se desenvolve na medula óssea, a produção do sangue fica comprometida e é comum que o paciente apresente anemia. Pode ocorrer também queda das plaquetas, surgindo sinais de sangramento, como pintas pequenas avermelhadas na pele (petéquias), sangramento gengival e equimoses (manchas roxas) na pele em áreas não muito habituais. “Quando a criança está andando e é muito ativa, é muito comum surgirem equimoses nas pernas. Nesses casos, é importante tranquilizarmos os pais que esse quadro está dentro do esperado,” explica Loretta.

Já nos casos de tumor cerebral, a dor de cabeça que começa a se tornar frequente, que piora a intensidade e começa a acordar a criança na madrugada é um sintoma importante. “Na verdade, toda dor que acorda a criança de madrugada é um sinal de alerta. A dor de cabeça acompanhada de vômitos, principalmente matutinos, também pode ser um sinal de aumento da pressão intracerebral”, alerta a especialista.

Além disso, também podem surgir outros sintomas como alteração no equilíbrio, da parte do motor fino, ou seja, a criança começa a alterar a escrita, do campo visual, com a perda da lateralização da visão da criança ou mesmo o estrabismo, e a diminuição de força de um lado do corpo. Por fim, a melhor forma de se diagnosticar o retinoblastoma é a realização periódica do teste do olhinho, exame de fundo de olho que é feito ainda na maternidade e devendo ser repetido a cada seis meses até os três anos de vida da criança.

Mudança de rotina e apoio médico

Para a pediatra Loretta Campos, o diagnóstico de câncer infantil é sempre um desafio tanto para o especialista que precisa comunica-lo como para a família que vai recebe-lo. Por isso, é importante que o profissional de saúde sirva também de apoio nas mudanças que a descoberta da doença traz para a rotina do paciente e seus familiares.

“Serão muitas idas ao hospital. A vida da criança também se modifica muito porque é necessário ter cuidados específicos para evitar infecções por conta da baixa imunidade. É preciso ter muita resiliência e isso é realmente muito desafiador. Nós temos que estar ao lado para apoiar essa família na superação dessa fase tão difícil”, conclui.