Estudo indica caminhos para avanços no rastreamento de câncer de pulmão no Brasil, mas desigualdades persistem
Pesquisadores comparam diretrizes de triagem de câncer de pulmão nos EUA e sua aplicação no contexto brasileiro
Um estudo, publicado em dezembro na JAMA Network Open, sobre o rastreamento de câncer de pulmão no Brasil revelou avanços significativos na identificação de critérios mais eficazes para a detecção precoce da doença. No entanto, apesar dos avanços, desigualdades persistentes entre grupos sociodemográficos continuam sendo um desafio.
O estudo comparou as diretrizes do US Preventive Services Task Force (USPSTF) de 2013 e 2021 para triagem de câncer de pulmão e estimou o impacto da sua implementação na população brasileira. A pesquisa analisou mais de 27 milhões de indivíduos representativos da população brasileira e revelou que a adoção das diretrizes de 2021 poderia ser associada a uma redução nas disparidades na taxa de mortalidade por câncer de pulmão entre diferentes grupos demográficos.
Segundo Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico e presidente do Instituto Oncoclínicas, os resultados mostram a potencial eficácia das novas diretrizes de rastreamento de câncer de pulmão, com um passo significativo na redução das desigualdades. “No entanto, ainda há desafios em lidar com disparidades persistentes, especialmente entre grupos raciais, educacionais e regionais”, diz.
As novas diretrizes ampliam os critérios de elegibilidade, permitindo que um grupo mais amplo de indivíduos de alto risco seja considerado para a triagem de câncer de pulmão. Isso inclui pessoas entre 50 e 80 anos com histórico de tabagismo de 20 anos-maço (um maço de cigarros por dia), em comparação com as diretrizes anteriores que estabeleciam uma idade mínima de 55 anos e um histórico de 30 anos-maço.
No entanto, o estudo destacou que apesar desses avanços, os indivíduos negros continuam apresentando maior risco potencial em comparação com outros grupos étnicos, juntamente com pessoas com baixa escolaridade e residentes em áreas com menos recursos.
“É crucial identificar estratégias personalizadas que considerem não apenas critérios clínicos, mas também o contexto epidemiológico local. Isso inclui a compreensão das disparidades e a criação de políticas de rastreamento que sejam inclusivas e eficazes para todos”, afirma Carlos Gil, ressaltando a importância de abordagens adaptadas às populações de alto risco.
O estudo reforça a necessidade contínua de políticas de saúde pública que considerem não apenas os critérios clínicos, mas também fatores socioeconômicos e étnicos ao desenvolver estratégias de triagem para o câncer de pulmão. “Mesmo com avanços, há um caminho a percorrer para garantir que a detecção precoce seja equitativa para todos os grupos da população brasileira”, conclui.