
Fitoterápicos: Aliados ou vilões?
Farmacêutica e professora da Estácio alerta para os cuidados com o uso de medicamentos aproveitando a campanha Março Vermelho e a importância da saúde renal
Durante a campanha Março Vermelho, sobre o combate e prevenção do câncer renal, especialistas reforçam a importância da prevenção e do diagnóstico precoce das doenças renais, que afetam milhões de pessoas no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, uma em cada 10 pessoas no país têm algum grau de doença renal, sendo que muitas delas só descobrem o problema em estágios avançados. O uso inadequado de medicamentos, incluindo fitoterápicos e produtos naturais, pode agravar essas condições, tornando essencial a conscientização sobre o que realmente faz bem para o sistema renal.
No Brasil, a fitoterapia — uso de plantas medicinais para tratamento — tem ganhado destaque como alternativa ou complemento aos tratamentos convencionais. Entretanto, é fundamental entender quando recorrer a esses recursos naturais e quais cuidados são necessários para evitar danos aos rins. A fitoterapia oferece diversas opções que podem auxiliar na saúde renal.
Estudos indicam que determinados fitoterápicos possuem propriedades benéficas para os rins, como a cavalinha, conhecida por sua ação diurética, e o dente-de-leão, que auxilia na eliminação de toxinas. Uma revisão científica apontou que, em 11 dos 12 estudos analisados, os fitoterápicos conseguiram prevenir ou melhorar lesões renais. No entanto, a doutora Nathania Santiago, professora do curso de Farmácia da Estácio, alerta que o uso indiscriminado desses medicamentos pode sobrecarregar os rins e levar a complicações sérias. “É imprescindível consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer tratamento com plantas medicinais”, alerta.
O grande problema da automedicação, seja com medicamentos alopáticos (medicamentos comuns, como genéricos, anti-inflamatórios e outros) ou fitoterápicos, está no desconhecimento sobre seus efeitos colaterais e potenciais interações com outros compostos. Apesar da crença popular de que “se é natural, mal não faz”, essa afirmação não é verdadeira. “Muitos produtos naturais podem conter substâncias tóxicas para os rins ou interagir negativamente com outros medicamentos. Um exemplo é o ácido aristolóquico, presente em certas plantas da família Aristolochiaceae, que tem sido associado a lesões renais graves e até ao desenvolvimento de câncer do trato urinário”, comenta a farmacêutica.
Diante desse cenário, Nathania indica que é essencial saber quando recorrer a medicamentos e fitoterápicos. Sinais como inchaço, alterações na urina, fadiga e hipertensão podem indicar problemas renais e devem ser avaliados por um profissional. Apenas um especialista pode diagnosticar corretamente a condição e prescrever o tratamento adequado. “O uso de fitoterápicos deve ser complementar e nunca substituir as terapias convencionais sem orientação”, enfatiza.
Além disso, é importante desmistificar algumas informações sobre o uso de produtos naturais na saúde renal. “Um dos equívocos mais comuns é acreditar que beber grandes quantidades de água sempre beneficia os rins. Embora a hidratação seja essencial, o consumo excessivo de líquidos pode sobrecarregar os rins em algumas condições”, alerta. “Outro mito é que os fitoterápicos não possuem efeitos colaterais, quando, na realidade, podem causar toxicidade, reações adversas e interagir com outros medicamentos”, complementa a docente.
Nathania orienta que para manter a saúde renal em dia, algumas medidas são essenciais. Consultar um profissional antes de iniciar qualquer tratamento fitoterápico é fundamental para evitar riscos. Evitar a automedicação e manter um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e prática regular de atividades físicas, também são estratégias eficazes na prevenção de doenças renais. “A realização de exames periódicos auxilia na detecção precoce de possíveis problemas”, finaliza.