
Ministra Nísia fala a alunos de Harvard sobre enfrentamento a crises de saúde
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, foi palestrante, nesta semana, em uma aula sobre desafios de liderança para alunos do programa de mestrado em saúde pública da Harvard T. H. Chan School of Public Health. A proposta do curso é entender como o conhecimento científico pode ser aplicado, de maneira prática, para resolver problemas de saúde pública a partir do olhar de líderes de instituições de saúde globais. Entre os principais tópicos de discussão, estavam a visão da ministra para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), a resposta pública aos casos de dengue e os esforços para enfrentamento da pandemia de covid-19.
Nísia foi convidada em reconhecimento à sua atuação em crises de saúde pública. Ela iniciou a palestra contando sobre sua trajetória como cientista. Primeira mulher que assumiu o comando da pasta da Saúde no Brasil e que presidiu a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a ministra é membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), doutora em Sociologia (1997) e mestre em Ciência Política (1989) pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). “Minha trajetória conta com 37 anos de carreira no setor público”, contou.
Lições da covid-19 e descentralização de recursos em saúde
Em relação ao coronavírus, a ministra reforçou a importante atuação da Fiocruz no combate ao negacionismo durante a pandemia e elencou algumas lições aprendidas, como a necessidade de descentralização geográfica da fabricação de vacinas e medicamentos. “Eu considero a pandemia de Covid-19 como um grande marcador da desigualdade social no mundo”, contou Trindade. Essa iniciativa foi levada pelo Brasil para o grupo de trabalho de saúde do G20, com a proposta da Aliança para a Produção Regional e Inovação. “É tempo de pensar a descentralização de recursos e equidade em saúde”, reiterou.
Preparação para possíveis pandemias
Sobre a preparação para futuras pandemias, ela elencou alguns desafios: além da promoção da equidade, da descentralização de insumos e da reorientação da pesquisa, ela também citou o reforço dos mecanismos de saúde, o fortalecimento da governança entre países e a necessidade de mudança nos paradigmas de comunicação para aproximar a ciência da sociedade. Os alunos também conheceram a trajetória de formação do SUS, os esforços da pasta para recuperação da confiança da população após a pandemia e a criação do Memorial da Covid-19. “É preciso conhecer, lembrar para, então, fazer diferente. […] No que diz respeito a esse aprendizado pelas sociedades, a memória é uma dimensão fundamental”, contou.
Equidade em saúde para o cuidado de população vulnerabilizadas
A equidade foi um tema central em suas falas – tanto entre países, quanto em relação a classe social, gênero, raça e etnia. Ela defendeu, inclusive, uma reorientação da pesquisa, tecnologia e inovação em saúde com foco no atendimento a populações vulneráveis, como o desenvolvimento de tratamento para doenças negligenciadas. “É importante que o campo da pesquisa acompanhe as necessidades dos países que pertencem ao sul global”, sugeriu.
Mudança climática e seus efeitos na saúde global
Sobre a presidência brasileira no G20, ela indicou que um dos temas prioritários no trilho da saúde é a relação entre mudança do clima e saúde. A ministra apontou que a alta de casos de dengue, entre outros fatores, é consequência dos efeitos da mudança climática, e, inclusive, tem alcançado vários países, como é o caso do Uruguai, que dialoga com o Brasil para entender como proteger sua população. “Não é possível abordar a complexidade da saúde apenas a partir do campo biomédico ou do campo das políticas de saúde pública. A questão ambiental hoje se coloca como uma questão central para todas as áreas de conhecimento […]. O mapa da vulnerabilidade ambiental se aproxima muito da vulnerabilidade social”, concluiu.